A ideia de falar com uma pessoa estranha sobre assuntos privados não é algo que atrai todo mundo. Mesmo com bons motivos, decisão tomada e sabendo que o terapeuta está lá para te ajudar, existe um grande medo de simplesmente não conseguir articular uma só palavra.
Quer você tenha dificuldade em se abrir nas primeiras sessões, ou sinta que “esgotou” o que tinha pra dizer, você não está sozinho(a).
Não é incomum que as pessoas compareçam à sessão e não tenham certeza sobre o que desejam discutir. Com pacientes mais jovens e no início da terapia, costumo conduzir um pouco mais, buscando entender melhor o paciente e suas necessidades. Isso pode ajudar a tirar um pouco da pressão envolvida. Mas em algum momento é você quem vai assumir a direção e isso pode ser desconfortável quando não se tem certeza do que falar. Estas são apenas algumas ideias para destravar o processo:
1. PROBLEMAS MENORES
Na terapia não existe um tópico “correto”. Não é um lugar apenas para falar sobre questões “profundas” ou “sérias”. Problemas menores do dia-a-dia também tem vez, se for o que você deseja falar e esteja na sua cabeça naquele momento.
2. RECAPITULE
Não sabe por onde começar a sessão? Comece recapitulando o que aconteceu desde a última vez que você viu sua terapeuta – bom e ruim – e a partir daí, veja o que deseja explorar mais juntos.
3. PADRÕES E COMPORTAMENTOS
Depois das primeiras sessões de terapia, é uma boa ideia monitorar seus pensamentos, padrões e comportamentos mantendo um diário entre as sessões de terapia. Isso pode ser especialmente útil se você for tímido ou tiver dificuldade em lembrar das coisas na hora.
Você não precisa trazer seu diário ou lê-lo durante a sessão. Mas anotar as coisas permite que você procure padrões em seus sentimentos e comportamentos: por exemplo, uma pessoa pode observar que se sente inadequada ou insegura diversas vezes, e seria bom abordar isso em terapia.
4. RUMINAÇÃO MENTAL
Depois de você aprender a observar os próprios pensamentos você pode notar algumas idéias repetidas que tem sobre você, sobre as pessoas, sobre o mundo, passado ou futuro em geral.
Exemplo: Você anotou teve dificuldade em adormecer uma noite desta semana porque sua mente não parava de pensar em algo que gostaria de ter feito ou porque estava preocupado com algo que estava por vir, esse geralmente é um ótimo lugar para começar sua sessão.
5. RELACIONAMENTOS
Isso não significa apenas sua vida amorosa. Conte ao seu terapeuta sobre todos os seus relacionamentos, seja com sua família, amigos, professores, vizinhos, colegas.
Você sente que tem apoio em casa? Você sente que tem outras pessoas com quem compartilhar seus sentimentos ou também tem dificuldade de se abrir com outras pessoas, não apenas com sua terapeuta?
Mesmo que você sinta que tem bons relacionamentos, falar sobre eles pode ajudá-lo a perceber as coisas que estão funcionando em sua vida – e os recursos nos quais você pode contar fora da sessão.
6. SENTIMENTOS ATUAIS
Você pode ter se sentido triste, irritado ou deprimido durante a semana, mas se não estiver se sentindo assim agora, não precisa começar com isso.
Concentre-se em como você está se sentindo no presente e apenas diga como você se sente – mesmo que o que você esteja sentindo seja apenas: “Eu realmente não queria aproveitar esta hora para terapia hoje porque estou cheio de coisas pra estudar”.
A verdade é que as suas necessidades mudam. Então tudo bem se você pensasse em falar sobre seu comportamento alimentar e em vez disso, passasse a sessão inteira desabafando sobre a morte do seu animal de estimação. As sessões de terapia devem ser o mais adaptadas possível ao que você precisa em um determinado momento. Na verdade, o tempo de terapia é tipo a “Sala Precisa” do Harry Potter – você pode tirar dela tudo o que mais precisa naquele dia.
7. TRAUMAS PASSADOS
Isso pode parecer óbvio – mas a verdade é que, se você tem se concentrado no seu presente nas últimas sessões, talvez não tenha tido tempo de contar ao seu terapeuta sobre seu passado.
Por exemplo, talvez você tenha passado o último mês contando ao seu terapeuta sobre seus atuais problemas de relacionamento com os amigos, mas nunca discutiu seus relacionamentos anteriores ou o casamento de seus pais.
Reservar um momento para se afastar do presente e escolher falar sobre o passado não é perda de tempo. Pode ajudá-lo a lidar com alguns sentimentos que você tem reprimido ou deixado sem solução.
8. NOVOS DESAFIOS DA VIDA
As pessoas em terapia tendem a ter algo que desejam abordar, mas o assunto não precisa ser necessariamente “um problema”.
Quando se vivencia novos aspectos da vida, isso pode despertar sentimentos ou emoções que se precisa de ajuda para compreender. É assim mesmo. E embora não se possa articular o quê é esse sentimento somos capazes de reconhecer que algo está diferente.
Se algo mudou em sua vida e está fazendo você se sentir diferente de alguma forma, fale sobre isso. Você não precisa falar apenas sobre as coisas “ruins”. A mudança pode ser boa, mas ainda assim trazer à tona novos sentimentos que você pode querer explorar em um espaço seguro e sem julgamentos.
9. MUDANÇAS E TRANSIÇÕES
É verdade que algumas pessoas procuram a terapia para tratar de algo específico, como por ex. sintomas ansiosos. Mas às vezes, as pessoas estão passando por uma transição de vida (mudança de cidade, separação dos pais, mudanças corporais, perdas…) e querem alguém para conversar e ajudar a lidar com a mudança. Tratar do que tem sido novo no dia-a-dia é uma possibilidade nesse cenário.
E se você está achando difícil se abrir, saiba que nada está fora dos limites. As pessoas falam sobre tudo na terapia. Eles falam sobre suas esperanças, sonhos, medos, decepções, mágoas, vergonha, conversas com a mãe, interações com os amigos, fracassos percebidos, sexualidade, pessoas que admiram, interesses antigos e atuais.
10. PENSAMENTOS E CONFLITOS EVITADOS
Isso pode ser algo que você tem vergonha de pensar ou algo que acha “bobo” para se preocupar. Talvez seja algo que você considera “insignificante” ou “estúpido”.
Todos nós nos censuramos e julgamos nossos sentimentos. Mas a terapia é exatamente o lugar para explorar todos os nossos pensamentos e sentimentos, mesmo aqueles que achamos que não deveríamos ter.
Não há problema em sentir o que você está sentindo, e definitivamente não há problema em trazer isso à tona na terapia.
Às vezes peço aos pacientes que pensem sobre o que menos gostariam de falar naquele dia! Pode ser um sinal de onde está o problema.
Isso faz sentido – Muitas vezes evitamos falar sobre coisas desconfortáveis, dolorosas ou difíceis, mas quando deixamos que elas apodreçam, elas pioram. Considere a terapia como seu lugar seguro para conversar sobre coisas que você evitaria.
11. DESCONFORTO COM A TERAPEUTA
A confiança leva tempo para ser construída, e compartilhar seus pensamentos e sentimentos com uma estranha não é fácil. Se você está tendo problemas para confiar em seu terapeuta o suficiente para se abrir, não tenha medo de tocar no assunto! Enquanto terapeuta quero que o paciente se sinta à vontade, mas não existe uma fórmula de como isso funciona para todo mundo. Com essas informações, posso trabalhar na construção de uma base de confiança que permitirá que você se abra mais no futuro.
12. A TERAPIA NÃO ESTÁ FUNCIONANDO PRA VOCÊ
Se você realmente não se sente confortável com a terapeuta, há uma chance dela não ser a terapeuta certa para você – e tudo bem!
Há diferentes tipos de psicoterapia e pessoas. Pense se você se sente confortável pedindo exatamente o que precisa. Considere suas necessidades e quão aberto sua terapeuta está às suas solicitações.
13. SOBRE O TÉRMINO DA TERAPIA
A psicoterapia não foi feita para durar para sempre. Então, se você achava fácil pensar em coisas para conversar e agora não é mais fácil, pode ser um sinal de que atingiu um ponto final.
É perfeitamente normal sentir que não precisa de terapia depois de um tempo.
Para saber a diferença, pense na sua primeira sessão. No meu caso sempre faço a pergunta: “o que seria um sinal de que a terapia está dando certo pra você? Que tipos de coisas estará fazendo (por ex.)? O processo de terapia não é linear e inclui alguns aparentes retrocessos: Costumo descrever como uma espiral ascendente. Parece que você realizou o que se propôs a realizar?
Se você continua sentindo que está aprendendo mais sobre si mesmo ou reunindo novas informações e recursos, geralmente é um sinal de que ainda está obtendo algo com a terapia. Mas se parece que você estagnou ou não está obtendo nada em suas sessões que não conseguiria em uma conversa com outra pessoa, talvez seja hora de fazer uma pausa.
Você não precisa parar abruptamente. Você sempre pode conversar com seu terapeuta sobre como reservar mais tempo entre as sessões e ver como você se sente.
Se você os vê atualmente em sessões semanais, por exemplo, pode tentar fazer um check-in mensal. Se acontecer alguma coisa e você quiser retomar as sessões semanais, você já tem uma base com um terapeuta que conhece e em quem confia.