MARIA FERNANDA SALVADORI PEREIRA

CRP 912612

MARIA FERNANDA SALVADORI PEREIRA

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A Psicoterapia na juventude – FAQ

POR QUÊ?

A juventude é uma fase intensa e desafiadora. Não é à toa, autores que estudam a adolescência fazem uma analogia deste período com uma tempestade : há um aumento repentino e  simultâneo de mudanças hormonais, neurais, sociais e de pressões da vida. Nesta fase é como se a personalidade levasse um chacoalhão, deixando em suspenso seus principais organizadores. O modo de pensar e agir que trazemos de nosso temperamento e vivências infantis são reconfigurados, se consolidando de forma importante até o início da idade adulta. Estudos de longo prazo têm destacado como características que se estabelecem nessa fase predizem o bem-estar de forma global e prolongada [1]. Nesse cenário a psicoterapia tornou-se uma ferramenta importante para ajudar os adolescentes a navegar através das suas emoções complexas e a lidar com as exigências deste período. 

O QUÊ ESPERAR?

A psicoterapia oferece um espaço acolhedor e sem julgamentos para expressão e compreensão de pensamentos e sentimentos. Dependendo das necessidades individuais do paciente utiliza-se diversas técnicas, como a auto-regulação emocional, treino de habilidades sociais, insigth sobre emoções, relacionamentos e clarificação de valores. A psicoterapia coloca-se principalmente como um exercício de reflexão sobre escolhas, relações e construção de um senso de si positivo [2].  Se for o caso, a terapia também pode ajudar pais e familiares a enfrentar situações difíceis e melhorar a comunicação. 

QUAIS OS RISCOS?

Muitos pais se preocupam com eventuais a crenças negativas sobre cuidados com saúde mental que afetem a percepção de terceiros ou do próprio adolescente. Sobre isso é preciso considerar que fazer psicoterapia para a geração (jovem) atual é algo muito mais comum do que era para a minha, dos anos 80, 90. Frequentar um psicólogo tornou-se algo corriqueiro e que os adolescentes não costumam esconder dos amigos. Minha experiência é de receber jovens que pedem aos pais para fazer terapia, que relatam que o amigo faz e que este o incentiva a experimentar. Outro medo (velado mais muito importante) é de que o profissional manipule ou induza o jovem a favor de seus ideais e crenças pessoais. Isso seria um caso de transgressão de ética profissional [3]. Mas antes de tudo é preciso entender como uma psicoterapia funciona. O terapeuta é alguém treinado para ser como uma caixa de ressonância: só vai abordar questões, situações, problemas e realidades que são trazidas pelo pacientes. Respeitando e incentivando sua agência consciente, ou seja, sua capacidade de pensar e decidir, considerando as consequências. 

E SE MEU FILHO (MINHA FILHA) NÃO QUISER FAZER TERAPIA, DEVO INSISTIR?

Depende. Avalie o grau de sofrimento ou de conflito. Avalie a idade. Há maneiras de se abordar a questão e uma primeira conversa dos pais com a terapeuta podem auxiliar nesse sentido. Se for algo importante ou se o paciente tiver menos de 16 anos, por exemplo, posso iniciar a terapia contra a vontade, sim. Mas nunca mantê-la contra a vontade. Há algumas soluções para isso, como por exemplo o “acordo de três sessões” (e depois ele decide se continua ou não). 

Pela minha experiência não é produtivo continuar a terapia se o paciente não confia na terapeuta. Isso é diferente do jovem não querer lidar com determinado problema por falta de compreensão. São situações que exigem tato e respeito, quanto ao “menor prejuízo” e nível de desenvolvimento. Avalia-se se caso a caso.

Fontes:

[1] BLACKEMORE, Sarah-Jayne. Inventing Ourselves: The Secret Life of the Teenage Brain. Ed: PublicAffairs,  2018. E-book kindle.

[2] FRANCO, Gisele de Rezende; RODRIGUES, Marisa Cosenza. Programas de intervenção na adolescência: considerações sobre o desenvolvimento positivo do jovem. Temas psicol.,  Ribeirão Preto ,  v. 22, n. 4, p. 677-690,  dez.  2014 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2014000400001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  15  nov.  2024. https://doi.org/10.9788/TP2014.4-01.

[3] CÓDIGO de Ética Profissional do Psicólogo. Art. 2. “É vedado ao psicólogo.” Conselho Federal de Psicologia, Brasília,

agosto de 2005

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